William Faulkner


Biografia

Faulkner nasceu trinta anos após o sul dos Estados Unidos ter sido derrotado na Guerra da Secessão. Antes, toda a região apresentava uma rígida estrutura social, construída sob a supremacia dos brancos de origem inglesa e religião protestante; assim sendo, a tradição puritana e colonial marcou-o em todos seus aspectos econômicos, políticos e religiosos. Em 1861, com a Guerra da Secessão, desmorona todo um universo familiar a negros e brancos. Durante quatro anos, o sul é devastado, desfazem-se a delicadeza e as maneiras gentis e instaura-se a degeneração moral e física dos poor white ("brancos pobres") e das famílias arruinadas pela abolição. Faulkner cresceu em meio a esse ambiente, que se refletiu marcadamente em sua obra. Não tentou escrever nem reproduzir a situação do sul decadente. Ao contrário, procurou refazê-la, reconstruí-la. Através de uma incansável reconstituição de fatos e pessoas, trabalhou em busca das raízes profundas.

Faulkner descendia de antiga e ilustre família sulista à qual pertencem diversos políticos. Seu avô, William C. Falkner (o u foi acrescentado pelo escritor) foi herói da guerra civil, construiu uma linha de estrada de ferro e foi morto depois de sair vencedor de uma eleição local. Ele é retratado pelo autor como o velho Coronel Sartoris do romance Sartoris (1929) e em várias novelas. Também seu avô, banqueiro, e seu pai, comerciante, são transformados em personagens em algumas novelas e em Os Desgarrados.

Faulkner abandonou os estudos para trabalhar no banco do avô. Propenso à melancolia e à solidão, escrevia poemas, lia e tentava pintar, mas era amigo de Phil Stone, advogado que tinha relações com os jovens escritores T. S. Eliot, Robert Frost, Ezra Pound e Sherwood Anderson. Por medir somente um metro e sessenta centímetros de altura, Faulkner foi recusado pelo serviço militar americano e acabou por alistar-se na Força Aérea canadense, mas não chegou a participar da Primeira Guerra Mundial na Europa.

Depois de passar um ano na Universidade do Mississippi, em Oxford, onde estudou inglês, francês e espanhol, Faulkner foi trabalhar em uma livraria em Nova York. Logo estava de volta a Oxford, onde exerceu as profissões de carpinteiro, pintor de paredes e chefe dos Correios e publicou seu primeiro livro, a coletânea de poemas The Marble Faun, (1924). No ano seguinte, partiu para Nova Orleans, onde conheceu Sherwood Anderson, a única influência literária que ele admite ter tido. Escreveu artigos para jornais e revistas e publicou o primeiro romance, Paga de Soldado (1926).

Tendo se estabelecido definitivamente em Oxford, Faulkner casou-se com Estela Oldham em 1929 e publicou Sartoris, a primeira obra passada no mítico Condado de Yoknapatawpha, cenário da maior parte de suas obras subsequentes. Nos anos seguintes publicou seus principais livros, aqueles com os quais receberia, lentamente, o respeito da crítica, mas não o favor dos leitores: de toda sua produção, somente Santuário (1931) e Os Desgarrados foram sucesso de público. Passou a intercalar períodos de recolhimento com outros em Hollywood, com quem sempre teve uma relação conturbada, mas a quem recorria quando precisava de dinheiro. Lá trabalhou como roteirista, habitualmente com Howard Hawks. Comprou uma fazenda com o que ganhou no cinema, em 1936, mas passava o tempo caçando, pescando e ouvindo as lendas das pessoas humildes de sua terra.

Viajou pelo Japão, França e Filipinas, participando de encontros de escritores ou dando palestras. Foi nomeado Escritor Residente da Universidade de Virgínia, onde passou a viver parte do ano. Em 1950, enquanto arava a terra, recebeu a notícia de que ganhara o Prêmio Nobel referente ao ano anterior. Eterno tímido, costumava dizer que preferia a companhia de seus amigos caçadores e da gente simples de sua fazenda ao brilho das rodas literárias. Tornara-se escritor movido por uma força interior que lhe proporcionava, nos melhores momentos, alçar-se à altura de seus autores prediletos: James Joyce, Cervantes, Herman Melville, Honoré de Balzac, Charles Dickens, Dostoiévsky, Tolstói, Thomas Mann, Gustave Flaubert, Joseph Conrad, Goethe e os poetas românticos ingleses. Afirmava que não saía de casa sem levar Shakespeare em um bolso e o Antigo Testamento em outro.

Faulkner faleceu de complicações cardíacas em 06 de Julho de 1962, logo depois de lançar seu último romance, "Os Desgarrados".

A obra de Faulkner pode ser dividida em três períodos (estudiosos há que reconhecem apenas dois, fundindo o primeiro e o segundo em um só):

O primeiro, de aprendizado, é formado pelas criações iniciais, abrigando, inclusive, Sartoris e alguns contos de These Thirteen. Aqui, ainda é grande a influência da literatura do final do século XIX, principalmente dos poetas Tennyson e Swinburne e do periódico literário inglês da década de 1890 Yellow Book, com sua linguagem elegante e estilizada.

O segundo, e mais importante, começa com O Som e a Fúria e se alonga até Palmeiras Selvagens (1939). É o período em que o autor encontra seu caminho, com obras violentas, austeras, plenas de horror, mas onde não falta, por vezes, uma comicidade exacerbada. É aqui que Faulkner desenvolve seu estilo avassalador, com frases longas e muitas vezes obscuras que se espalham pela página inteira e que obrigam o leitor a guardar detalhes ínfimos, que só terão explicação em um desenlace eventualmente frustrante, porém inexorável. Esta é a fase das experimentações, com histórias diferentes correndo em paralelo, um mesmo fato sendo contado por várias personagens alternadamente, contos encadeados até formar um romance (técnica já utilizada por Sherwood Anderson em A Verdade de Cada Um/Winesburg Ohio, 1919), o mundo sendo mostrado pelos olhos de um idiota, o desnudamento do turbilhão desconexo a atormentar o suicida às vésperas do gesto fatal. Aqui se encontram as narrativas trágicas da decadência moral e material de famílias inteiras, como os Snopes, os Compson, os Sutpen e os Sartoris, da derrocada inevitável de um Sul imerso em um passado glorioso atropelado pela História, a maldição do sangue, o preconceito racial.

No terceiro período, iniciado por A Aldeia (1940) e que vai até Os Desgarrados, Faulkner vislumbra alguma esperança para a condição humana, esperança esta que já transparecia na última história de Os Invencidos, quando Bayard Sartoris se recusa a vingar a morte do pai. Faulkner também demonstra uma certa desilusão com os negros, que ele esperava fossem menos passivos ante a condição sub-humana a que estavam relegados, principalmente nos estados do Sul. Por outro lado, a escrita do autor torna-se cada vez mais rebuscada, como se Faulkner se tornasse prisioneiro de seu próprio estilo. Outra característica é a abertura para o humor de A Mansão (1959) e Os Desgarrados e a narrativa de cunho policial e sociológico de O Intruso (1948) e dos contos de Knight's Gambit, 1949.

Acessado em: http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Faulkner

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