- Olha um sapo! Ih ! que feio! ...
Vou matá-lo num instante
E traçar de meio a meio
Animal tão repugnante.
Eu não sei para que medra
Bicho tão feio e tão mau:
Vou esmagá-lo co’uma pedra
E depois cravar-lhe um pau.
- Não o mates. Porque odeias
O inofensivo animal,
E matá-lo tanto anseias ?
Acaso já te fez mal ?
- A mim não: mas, porventura,
Não sabes que os desta raça
Fazem muita desventura
E causam muita desgraça ?
- Pobre do sapo, coitado,
Que não faz mal a ninguém !
Porque há-de ser odiado,
Se afinal só nos faz bem ?
- Lança veneno a distância
E de cegar é capaz ...
- Revela ignorância
Quem to disse, meu rapaz.
- É feio não gosto dele;
Repara que boca enorme !
Não vês as rugas da pele
Como o tornam tão disforme ?
- Em tudo quanto tens dito
Há somente esta verdade:
“o sapo não é bonito”
Tudo o mais é falsidade.
É feio, sim: mas que importa
Que seja o pobre animal,
Se limpa o jardim, a horta
Sem nos causar nenhum mal ?
O prejuizo que evita
Sabes lá a quanto monta ?
Destrói, no campo que habita,
Bichinhos vários sem conta.
Vermes, caracóis, insectos,
Alguns bastante daninhos,
De que os campos são repletos
Come-os como passarinhos.
Merece-nos, pois, respeito
E as melhores atenções.
Ser feio só é defeito,
Se s~so feias as acções.
É feio ? Sim, na verdade,
Não tem o talho perfeito:
Mas que tem a fealdade ?
É o ser feio um defeito ?
Não julgues as criaturas
Somente pelas feições:
Vê se são dignas e puras,
Julga-as por suas acções.
(Do livro de leitura da 3ª classe de 1951)
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